João Pataco I
Chama-se João Pataco e é um homem como tantos outros que vivem na rua. O rosto marcado por tantas vidas – dele e de outros que a ele se ligaram.
Foi cabreiro, diz ele, mas um parto maldito levou-lhe a mulher e o filho de ambos e o cabreiro deixou de o ser. Caíu nas ruas e vive “pior do que um cão”.
Barba em desalinho, olhos que dizem o que nem é preciso dizer, rugas que refletem os anos – que não são tantos assim, mas é como se fossem – e as dores que, essas sim, são muitas, “tantas que nem dá para contar”.
Olhos perdidos na distância…ou no mais fundo de si próprio? Abismos de alma que se sentem mas não se expressam senão pelos olhos, que não mentem.
Que desígnio é este que coloca nos olhos de um homem umas lágrimas eternas que, suspensas, nunca chegam a cair?
Texto – Maria João Ruivo
Fotografia – José Franco 2008